Caros amigos, gostaria de lhes
pedir permissão ara dar um pequeno salto no tempo e falar dos meus últimos dias
em Viena. Prometo que posteriormente voltarei no tempo novamente para contar
tudo que aconteceu entre meu último post e esse aqui.
Eu comecei a sentir que estava
nos meus últimos dias em Viena em meados da minha terceira semana de estágio
lá. Estranhamente comecei a sentir uma saudade antecipada daquele lugar, de
cada coisa que havia visto por lá, das experiências vividas e das pessoas que
havia conhecido. Sim, principalmente das pessoas e quem me conhece sabe disso.
Não sou de me apegar às coisas, mas me apego muito às pessoas e como havia
explicado a vários amigos, em Viena tive que reconstruir minha vida e parte mais
desafiadora foi conhecer novas pessoas e fazer novos amigos, pois seria
impossível passar 4 semanas lá na solidão completa, sem ter com quem dividir
meus momentos, conhecer a cidade, tomar minhas cervejas nos finais de tardes...
Lembro que a primeira vez que senti saudades de Viena fiquei surpreso, pois nos
meus primeiros dias lá sozinho, com tanta saudade de casa e dos meus amigos e
enfrentando tantas dificuldades, eu jamais poderia imaginar que uma hora eu
iria sentir falta daquilo.
Foi aí que decidi aproveitar mais
intensamente tudo que Viena tinha a me oferecer. Por incrível que pareça eu comecei
a aproveitar até o frio, que tantas vezes eu havia xingado! Comecei a pensar
que se quisesse sol e calor teria ficado pra passar meu veraneio em Natal, pois
quando decidi vir pra Europa em Janeiro sabia que iria encontrar muito frio por
aqui. Foi aí que comecei a sair de casa, com aquela neve caindo na cabeça,
batendo no rosto e entrando nos olhos e aproveitar tudo isso! Passei a tirar
foto dos carros congelados de manhã cedo, dos lagos congelados... Tudo isso pra
depois poder mostrar à minha família e aos meus amigos.
Por incrível que pareça, diante
de tantas dificuldades no meu estágio, eu também comecei a perceber que
sentiria falta do AKH, o hospital onde fiz estágio. Comecei então a entrar nele
e apreciar e decorar cada parte dele: seus restaurantes, cafés, supermercados,
padarias, lojas de roupas, sapatos, relógios, salão de beleza, tabacaria... Eu
nunca havia visto um hospital tão shopping!!! Eu sabia que iria lembrar dele
com uma certa saudade.
O sistema de transportes de Viena
então, que saudade eu iria sentir! Meu Deus, ter um metrô perto da minha casa
que me leva pra todo canto da cidade em poucos minutos e que passa sempre de 3
em 3, 4 em 4 ou 5 em 5 minutos... Chegar na estação do metrô e olhar pro painel
e ver quanto tempo falta pra ele chegar. Ter um mapa de todas as linhas de
metrô, ônibus, tram, trem, tudo isso nas minhas mãos e sozinho saber como
chegar a qualquer lugar sem ser necessário ficar perguntando a um e a outro. O
sistema de transportes de Viena é admirável!
Sim, não tinha como não sentir
saudade de tanta civilidade: os carros que sempre param quando os pedestres
começam a travessar as faixas, as pessoas utilizando a escada rolante de forma
tão eficiente (parados à direita; andando á esquerda) e todo mundo cumprindo
isso sempre, sem ninguém se esbarrar nem gritar com ninguém.
Eu tinha certeza que iria sentir
saudade de cada construção daquela cidade: o palácio de Schonbrunn, Complexo de
Holfburg, o Parlamento, a Prefeitura, os parques de Freud e Mozart, a Ópera de
Viena (assistir Otello nela e me deslumbrar, mesmo sem ser um admirador de
óperas), o centro de Viena com suas ruas que parecem calçadas e suas lojas
estilo lojas dos nossos Shoppings Centers...
Eu sabia, tinha certeza que iria
sentir falta de cuidar de mim todos os dias, cuidar da minha vida, planejar
meus dias, meus próximos passos, minhas viagens de fim de semana, me preocupar
e planejar e replanejar meu orçamento.
Eu sabia que iria sentir saudade
de sentir saudade de casa, da minha família, dos meu amigos... Ia sentir
saudade de sentir saudades deles à noite, sozinho no meu apartamento sem ter
ninguém pra conversar comigo. Sim, eu ia sentir saudades de ter que rezar pra
me sentir mais perto deles, de pedir a Deus pra não me deixar só nenhum segundo
para eu não sentir solidão (e nunca senti, mesmo estando sozinho).
Eu sabia e tinha certeza que
quando saísse de Viena eu iria sentir saudades do Fernando (chileno), Eduardo
(peruano) e do Rodrigo (cearense)... Das nossas aventuras vividas juntos, dos
risos, medos, desesperos, correrias pra pegar o trem, o metrô. Eu sabia que ia
sentir muita falta de durante o almoço começar a combinar com o Rodrigo o que
fazer à tarde e à noite. Estava certo de que sentira saudades, também, de sair
todos os dias pra conhecer novos lugares e me surpreender com toda aquela
beleza de Viena.
Bem, tudo isso pode parecer
estranho pra quem nunca viveu algo assim parecido, ou pra quem nunca se
permitiu viver. Quem me conhece sabe que eu me permito viver os meus momentos
da forma como Deus me coloca cada um deles. Eu não tenho medo de sentir
saudades nem dizer que sinto. Não tenho medo de chorar, de rir na hora que
quero... Também não tenho medo de enfrentar o desconhecido e foi por isso que
vivi tudo isso!
Na minha última semana em Viena,
saí todos os dias. De manhã ia pro estágio, como sempre. De tarde ia conhecer a
cidade. À noite tomava uma cerveja e ia pra casa. Isso sempre na companhia de
alguns dos colegas (sempre o Rodrigo) e às vezes do Eduardo ou do Fernando.
Na minha última noite em Viena,
decidi ir patinar no gelo na frente da prefeitura. A pista de patinação lá é
gigante, cheia de trilhas por entre os jardins da frente da prefeitura e duas
pistas grandes principais... Tudo isso lotado de pessoas: crianças, jovens,
adultos... Todos caem, uns choram, outros riem... Alguns dão um show à parte!
Eu apernas patinei com a neve caindo na minha cabeça e ouvindo “ai se eu te
pego” tocar na rádio de Viena. Eu tava ali patinando, na frente daquele prédio
belíssimo, com tantas luzes, num frio de uns – 5º C, com a neve caindo, música
tocando, na companhia de novos amigos e pensando comigo “essa é minha última
noite aqui”! Eu estava feliz, muito feliz!
No meu último dia ainda saí de
manhã para conhecer alguns lugares. À tarde fui pegar meu trem e tinha
combinado com o Rodrigo de dar meu tickt de um mês do metrô pra namorada dele
que havia chegado a Viena 2 dias antes de eu ir embora de lá. Na hora
combinada, na minha plataforma, ele chegou pra pegar o ticket. Ficou um tempo
conversando comigo (estava – 8º C), depois tirou um chaveiro de Fortaleza do
bolso e me deu dizendo que era o último e havia guardado pra mim. Eu recebi,
agradeci e não me levantei pra dar nenhum abraço. Disse apenas obrigado e dei
tchau. Eu sabia que não queria me despedir. Apenas disse tchau como se a gente
fosse se encontrar no outro dia, almoçar juntos, combinar o que fazer à tarde e
à noite e sair pra conhecer Viena.
Quando ele saiu, meu trem chegou
logo em seguida e eu sabia que tinha acabado aquele sonho, um dos melhores
sonhos que já vivi. Tinha acabado, mas as recordações seriam pra sempre. Saindo
de lá, desejei um dia voltar à Viena com minha família e mostrar tudo a eles.
Queria finalizar dizendo a todos
vocês que sonhem... Nunca deixem de sonhar porque o sonho parece algo distante
de ser realizado! Não deixem de viver o momento que Deus lhes oferece porque
ele parece difícil! Viva-o mesmo assim! Enfrente-o! E tirem proveito de tudo,
de tudo mesmo, ainda que você ache que não há nada que se aproveitar, porque
sempre terá.
Por fim, gostaria de agradecer às
pessoas que sempre acreditam nos meus sonhos mais ousados e me ajudam a torná-los
realidade. Não citarei nomes, mas essas pessoas, com certeza, sentirão que esse
meu agradecimento é para elas.
Grande abraço e que Deus abençoe
a cada um de vocês!!!
Você e sua capacidade de nos transportar pras suas próprias vivências né, Ed?!
ResponderExcluirSua experiência foi incrível, tenho certeza! Mas volte logo que estamos com saudades e doidos pra saber das novas histórias =)!!
Beijo
Ai meu filho, você sempre me fazendo chorar. Chorando de felicidade por ter ajudado você a realizar este sonho. Eu também me realizo nas suas conquistas. Beijos e que Jesus e Maria continue te iluminando sempre.
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