quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Minha segunda semana em Viena


Olá amigos, vou contar agora pra você como foi minha segunda semana em Viena.

Na minha segunda semana eu já estava acostumado com meu estágio e sabia tudo que precisava fazer, desde a hora que eu chegava ao hospital até a hora do meu almoço (quando ia embora): fazer as infusões dos pacientes internados, ir ao morning meeting e, por fim, ir assistir a alguma cirurgia no CC. Eu já estava habituado com o hospital e já sabia onde ficava cada lugar dele... Quando eu chegava, por volta das 7h15, descia ao 3º andar para ir ao meu armário guardar meu casaco e minha mochila e botar meu jaleco próprio do AKH (de uso obrigatório); de lá seguia para o 9º andar para fazer as infusões nos pacientes internos; quando terminava, descia para o 7º andar para assistir ao morning meeting; depois, subia ao 12º andar para ir pro CC assistir às cirurgias e, por fim, descia novamente para o 3º andar para botar novamente o meu casaco e deixar lá o jaleco.

Depois de tudo isso, se eu ainda tinha que esperar mais algum tempo pelos demais colegas para almoçarmos juntos, eu mudava de prédio (como já falei o AKH tem 3 torres e a de Neurocirurgia é um anexo ligado por uma passarela que eu nunca usava) e ia para a biblioteca no 5º andar do prédio principal (detalhe: o 5º andar aqui é o térreo, portanto do 4º ao 1º, os andares são subsolos, tipo o HUOL, mas eles não chamam de subsolo). Na biblioteca, eu me esforçava para conseguir uns dos 8 PCs que tinha livre acesso à internet e, quando conseguia, esperava meus colegas ali, pois todos quando saiam dos seus estágios faziam o mesmo.

Depois disso, a gente ia pro Mensa (o RU daqui). O Mensa funciona no esquema prato feito e sempre havia 4 opções de pratos (um sempre vegetariano). Os pratos ficavam expostos em uma vitrine com as descrições de cada um em alemão (que não me servia de nada). Pra minha sorte, eles sempre botavam a foto do que era a carne (se era carne de vaca tinha a foto de uma vaquinha, se de porco tinha a foto de um porco, se de frango a foto de uma galinha e assim por diante. Isso era a minha salvação!

O esquema era o seguinte: o valor da refeição dava direito ao prato principal e mais uma sopa de entrada ou uma sobremesa – tinha que escolher! Eu, filho de quem sou, quase sempre ficava com a sobremesa! Para beber um refrigerante tinha que pagar por fora – eu quase sempre pagava porque me engasgo muito e preciso comer com um líquido de lado (problema de família). Na hora de pagar a gente mostrava um cartãozinho que havia recebido para ter desconto na comida. E aqui vou adiantar um fato engraçado sobre isso que só descobri na 3ª semana. O cartão realmente dava um desconto. Mas não era o desconto de estudante da universidade. Era um valor entre o que uma pessoa pagava e um estudante da faculdade pagava. Na terceira semana eu percebi que se eu não mostrava o cartão, a moça achava que eu era estudante da faculdade e eu terminava pagando menos do que quando mostrava o cartão. Dessa forma, a partir da 3ª semana, nunca mais mostrei meu cartão e fiquei pagando menos de 4 euros pela comida com a bebida (quando eu mostrava pagava 5,25 euros).

Bem, na hora do almoço, almoçando com os colegas, sempre decidíamos o que fazer no restante do dia. O Fernando (chileno) quase sempre queria ir pra casa tirar um cochilo antes de ir a qualquer lugar porque estava sempre cansado; o Eduardo (peruano) de vez em quando saía com a gente, mas às vezes não podia porque tinha outras coisas pra fazer ou os horários do seu estágio não batiam com os nossos; dessa forma, quase todos os dias, apenas eu e o Eduardo (cearense) saía do hospital direto para as ruas Viena, a fim de conhecer lugares diferentes.

À noite, muitas vezes, combinávamos um lugar pra se encontrar com o Fernando e o Eduardo e íamos juntos a um Pub, ou jantar algo (tudo sempre barato – aqui nós sempre buscávamos o que fazer olhando, em primeiro lugar, o preço; sim, estou fazendo relatos de estudantes fazendo mochilão pela Europa)!

Na segunda semana, então, conhecemos a faculdade de Viena. Na verdade, conhecemos tipo um prédio central de Ciências Exatas, com uma arquitetura fantástica (como a de quase todas as construções em Viena). Assim, a universidade deles tem um estilo de construção totalmente diferente do nosso. Entramos no prédio para ver por dentro e também era fantástico. Logo na entrada, nos deparamos com uma espécie de placas das pessoas formadas naquela universidade e que ganharam o prêmio nobel. Lá havia a placa de 7 pessoas e uma 8ª com uma interrogação (eles já estão a espera do 8º)!

Conhecemos, também nessa semana, o parque do Freud, a casa do Freud, local onde funciona um museu não muito interessante e que só indico a visita para quem tiver muito tempo em Viena, como eu tive. Ainda nessa semana, fomos a um espetáculo musical no palácio de Schömbrunn, que apesar de não ser da orquestra de Viena, era de uma boa orquestra composta por músicos, mais dois cantores (um homem e uma mulher) e mais um casal de dançarinos que interpretavam e dançavam algumas músicas (detalhe que o casal de cantores também interpretavam muitíssimo bem todas as músicas que cantavam). A casa não estava lotada; pelo contrário, havia poucas pessoas, até porque aquela era uma apresentação para turistas e que acontecia nos sete dias da semana. Porém, mais uma vez, tivemos sorte de ir na segunda-feira, porque é um dos poucos dias que o grupo está completo com músicos, cantores e dançarinos.

Além disso que já relatei, todos os dias passeávamos pelo centro de Viena, registrando com fotos todas as belezas da cidade (que são inúmeras). No final da tarde, ou já a noite, quando não íamos a nenhum pub, nem coisa do tipo, jantávamos juntos (quase sempre no Mc ou nuns quiosques de rua que vendem comidas baratas – sim, aqui na Europa é diferente do Brasil e o Mc Donald’s é lugar de se comer para economizar).

Depois de comer, eu sempre ia pra casa... Muitas vezes passava em algum supermercado, antes de chagar em casa, para comprar algo pra café da manhã e jantar, além de outras coisas que sempre precisava (sim porque aqui eu cuidava da minha casa e precisava comprar comida, produtos de higiene pessoal, limpeza...).

Gostaria de terminar esse post falando mais sobre as minhas noites depois que eu chegava em casa. Isso porque na minha segunda semana eu ainda não estava totalmente habituado à nova vida em Viena, mas também a coisa já estava mais amena. Então quando eu chegava em casa no final da tarde ou à noite, era meu momento mais sozinho. Eu sempre tirava um tempo para fazer meu trabalhos da IF, falar com minha família e amigos, ouvir um pouco de música brasileira (Nando Reis, Zeca Baleiro, Pe. Fábia de Melo ou outro cantor católico). Quando meus amigos falavam comigo pela internet ou telefone, sempre me perguntavam se era muito ruim estar sozinho. Minha resposta era que não era tão ruim assim porque, na verdade, eu sempre ocupava meu tempo e minha mente com algo. Além disso, ou nunca estava sozinho: sempre estava falando com algum amigo, um dos meus irmãos ou meus pais. Quando não era isso, eu conversava com Deus! Sim, acho que nunca conversei tanto com ele em toda a minha vida. E esse foi um momento especial, creio muito nisso, pra mim e pra Ele porque nos aproximamos ainda mais. Nas minhas conversas com Deus, aprendi que quando sentimos o amor dele, sentimos também o amor das pessoas que amamos. E não pensem que nessas horas eu chorava ou fica triste com saudade de casa e dos amigos. Pelo contrário, incrivelmente eu ficava feliz e me sentia bem, porque sabia que as pessoas que me amam estavam todas felizes por eu estar aqui na Europa. E para mim, não havia como estar com Deus sem também estar com Maria... Então, eu estava na companhia de pai e mãe! No final da minha noite eu sempre me deitava e rezava e conversava ainda mais com Deus e, quase sempre, dormia conversando com Ele e isso era muito bom, porque quando eu acordava no dia seguinte, sentia que não havia passado a noite sozinho e que, pelo contrário, havia alguém sempre comigo.

Bem amigos, essa foi minha segunda semana em Viena. No meu próximo post falarei do meu 2º fim de semana na Áustria, que passei em Salzburg, cidade onde Mozart nasceu.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Meus últimos dias em Viena e minhas impressões sobre essa cidade


Caros amigos, gostaria de lhes pedir permissão ara dar um pequeno salto no tempo e falar dos meus últimos dias em Viena. Prometo que posteriormente voltarei no tempo novamente para contar tudo que aconteceu entre meu último post e esse aqui.
Eu comecei a sentir que estava nos meus últimos dias em Viena em meados da minha terceira semana de estágio lá. Estranhamente comecei a sentir uma saudade antecipada daquele lugar, de cada coisa que havia visto por lá, das experiências vividas e das pessoas que havia conhecido. Sim, principalmente das pessoas e quem me conhece sabe disso. Não sou de me apegar às coisas, mas me apego muito às pessoas e como havia explicado a vários amigos, em Viena tive que reconstruir minha vida e parte mais desafiadora foi conhecer novas pessoas e fazer novos amigos, pois seria impossível passar 4 semanas lá na solidão completa, sem ter com quem dividir meus momentos, conhecer a cidade, tomar minhas cervejas nos finais de tardes... Lembro que a primeira vez que senti saudades de Viena fiquei surpreso, pois nos meus primeiros dias lá sozinho, com tanta saudade de casa e dos meus amigos e enfrentando tantas dificuldades, eu jamais poderia imaginar que uma hora eu iria sentir falta daquilo.
Foi aí que decidi aproveitar mais intensamente tudo que Viena tinha a me oferecer. Por incrível que pareça eu comecei a aproveitar até o frio, que tantas vezes eu havia xingado! Comecei a pensar que se quisesse sol e calor teria ficado pra passar meu veraneio em Natal, pois quando decidi vir pra Europa em Janeiro sabia que iria encontrar muito frio por aqui. Foi aí que comecei a sair de casa, com aquela neve caindo na cabeça, batendo no rosto e entrando nos olhos e aproveitar tudo isso! Passei a tirar foto dos carros congelados de manhã cedo, dos lagos congelados... Tudo isso pra depois poder mostrar à minha família e aos meus amigos.
Por incrível que pareça, diante de tantas dificuldades no meu estágio, eu também comecei a perceber que sentiria falta do AKH, o hospital onde fiz estágio. Comecei então a entrar nele e apreciar e decorar cada parte dele: seus restaurantes, cafés, supermercados, padarias, lojas de roupas, sapatos, relógios, salão de beleza, tabacaria... Eu nunca havia visto um hospital tão shopping!!! Eu sabia que iria lembrar dele com uma certa saudade.
O sistema de transportes de Viena então, que saudade eu iria sentir! Meu Deus, ter um metrô perto da minha casa que me leva pra todo canto da cidade em poucos minutos e que passa sempre de 3 em 3, 4 em 4 ou 5 em 5 minutos... Chegar na estação do metrô e olhar pro painel e ver quanto tempo falta pra ele chegar. Ter um mapa de todas as linhas de metrô, ônibus, tram, trem, tudo isso nas minhas mãos e sozinho saber como chegar a qualquer lugar sem ser necessário ficar perguntando a um e a outro. O sistema de transportes de Viena é admirável!
Sim, não tinha como não sentir saudade de tanta civilidade: os carros que sempre param quando os pedestres começam a travessar as faixas, as pessoas utilizando a escada rolante de forma tão eficiente (parados à direita; andando á esquerda) e todo mundo cumprindo isso sempre, sem ninguém se esbarrar nem gritar com ninguém.
Eu tinha certeza que iria sentir saudade de cada construção daquela cidade: o palácio de Schonbrunn, Complexo de Holfburg, o Parlamento, a Prefeitura, os parques de Freud e Mozart, a Ópera de Viena (assistir Otello nela e me deslumbrar, mesmo sem ser um admirador de óperas), o centro de Viena com suas ruas que parecem calçadas e suas lojas estilo lojas dos nossos Shoppings Centers...
Eu sabia, tinha certeza que iria sentir falta de cuidar de mim todos os dias, cuidar da minha vida, planejar meus dias, meus próximos passos, minhas viagens de fim de semana, me preocupar e planejar e replanejar meu orçamento.
Eu sabia que iria sentir saudade de sentir saudade de casa, da minha família, dos meu amigos... Ia sentir saudade de sentir saudades deles à noite, sozinho no meu apartamento sem ter ninguém pra conversar comigo. Sim, eu ia sentir saudades de ter que rezar pra me sentir mais perto deles, de pedir a Deus pra não me deixar só nenhum segundo para eu não sentir solidão (e nunca senti, mesmo estando sozinho).
Eu sabia e tinha certeza que quando saísse de Viena eu iria sentir saudades do Fernando (chileno), Eduardo (peruano) e do Rodrigo (cearense)... Das nossas aventuras vividas juntos, dos risos, medos, desesperos, correrias pra pegar o trem, o metrô. Eu sabia que ia sentir muita falta de durante o almoço começar a combinar com o Rodrigo o que fazer à tarde e à noite. Estava certo de que sentira saudades, também, de sair todos os dias pra conhecer novos lugares e me surpreender com toda aquela beleza de Viena.
Bem, tudo isso pode parecer estranho pra quem nunca viveu algo assim parecido, ou pra quem nunca se permitiu viver. Quem me conhece sabe que eu me permito viver os meus momentos da forma como Deus me coloca cada um deles. Eu não tenho medo de sentir saudades nem dizer que sinto. Não tenho medo de chorar, de rir na hora que quero... Também não tenho medo de enfrentar o desconhecido e foi por isso que vivi tudo isso!
Na minha última semana em Viena, saí todos os dias. De manhã ia pro estágio, como sempre. De tarde ia conhecer a cidade. À noite tomava uma cerveja e ia pra casa. Isso sempre na companhia de alguns dos colegas (sempre o Rodrigo) e às vezes do Eduardo ou do Fernando.
Na minha última noite em Viena, decidi ir patinar no gelo na frente da prefeitura. A pista de patinação lá é gigante, cheia de trilhas por entre os jardins da frente da prefeitura e duas pistas grandes principais... Tudo isso lotado de pessoas: crianças, jovens, adultos... Todos caem, uns choram, outros riem... Alguns dão um show à parte! Eu apernas patinei com a neve caindo na minha cabeça e ouvindo “ai se eu te pego” tocar na rádio de Viena. Eu tava ali patinando, na frente daquele prédio belíssimo, com tantas luzes, num frio de uns – 5º C, com a neve caindo, música tocando, na companhia de novos amigos e pensando comigo “essa é minha última noite aqui”! Eu estava feliz, muito feliz!
No meu último dia ainda saí de manhã para conhecer alguns lugares. À tarde fui pegar meu trem e tinha combinado com o Rodrigo de dar meu tickt de um mês do metrô pra namorada dele que havia chegado a Viena 2 dias antes de eu ir embora de lá. Na hora combinada, na minha plataforma, ele chegou pra pegar o ticket. Ficou um tempo conversando comigo (estava – 8º C), depois tirou um chaveiro de Fortaleza do bolso e me deu dizendo que era o último e havia guardado pra mim. Eu recebi, agradeci e não me levantei pra dar nenhum abraço. Disse apenas obrigado e dei tchau. Eu sabia que não queria me despedir. Apenas disse tchau como se a gente fosse se encontrar no outro dia, almoçar juntos, combinar o que fazer à tarde e à noite e sair pra conhecer Viena.
Quando ele saiu, meu trem chegou logo em seguida e eu sabia que tinha acabado aquele sonho, um dos melhores sonhos que já vivi. Tinha acabado, mas as recordações seriam pra sempre. Saindo de lá, desejei um dia voltar à Viena com minha família e mostrar tudo a eles.
Queria finalizar dizendo a todos vocês que sonhem... Nunca deixem de sonhar porque o sonho parece algo distante de ser realizado! Não deixem de viver o momento que Deus lhes oferece porque ele parece difícil! Viva-o mesmo assim! Enfrente-o! E tirem proveito de tudo, de tudo mesmo, ainda que você ache que não há nada que se aproveitar, porque sempre terá.
Por fim, gostaria de agradecer às pessoas que sempre acreditam nos meus sonhos mais ousados e me ajudam a torná-los realidade. Não citarei nomes, mas essas pessoas, com certeza, sentirão que esse meu agradecimento é para elas.
Grande abraço e que Deus abençoe a cada um de vocês!!!