terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Hora e a Vez do Argumento de Inclusão

Com o advento das cotas para estudantes de escolas públicas, negros, índios e até mulheres (pasmem!), a UFRN há alguns anos criou o "argumento de inclusão" - AI - como forma de "dar uma mãozinha" aos estudantes de escolas públicas no processo do vestibular. A idéia inicial era fornecer alguns pontos extras (que variava de curso para curso) no argumento final do aluno. Dessa forma, o aluno aprovado na primeira fase do vestibular para Medicina, por exemplo, recebia uma bonificação de 18 pontos de argumento no seu argumento final. Essa medida, era considerada como justa pela maioria dos educadores e até mesmo alunos que não eram contemplados com o benefício.
No entanto, a partir do vestibular 2010 a UFRN modificou a pontuação do argumento de inclusão, que passou a ser 10% do argumento final do aluno aprovado na primeira fase do vestibular, independente do curso. Dessa forma, um aluno que tinha um argumento final de 600, ganhava 60 pontos e ia para 660 (uma tremenda ajuda!).
No vestibular 2010, primeira vez em que o argumento de inclusão foi posto em prática, os 7 primeiros colocados do curso de Medicina (o mais concorrido da UFRN) foram contemplados com o AI. E mais, o 8º colocado (que deveria ter sido o primeiro) ainda que tivesse fechado todas as provas objetivas e discrusivas, não teria condições de ultrapassar o argumento do primeiro colocado, ou seja, jamais seria o primeiro lugar. Além disso, dos quase 30 alunos aprovados com a ajuda do AI, cerca de 90% eram oriundos do IFRN que, convenhamos, é uma escola pública de qualidade a cima de muitas escolas particulares do nosso estado. O absurdo chegou a tal ponto, que certos alunos aprovados em Medicina chegaram a declarar que faziam outros cursos e que quando viram como seria o cálculo do novo AI, trancaram seus cursos para fazer vestibular para Medicina.
Diante da observação desses fatos, o aluno beneficiado com o AI passou a ser, praticamente, comercializado por alguns dos principais cursinhos de Natal. Os donos dos mesmo, passaram oferecer bolsa de 100% a esses alunos em seus cursinhos ou cursos isolados, em troca de terem a propaganda da aprovação do primeiro, ou melhor, dos primeiros lugares do curso de Medicina. Dessa forma, os alunos beneficiados com o AI passaram a estudar em escolas particulares, financiados pelos alunos não beneficiados (Óvio! Porque se um aluno estuda de graça numa escola particular é porque os pagantes pagam por ele!).
O resultado de todo esse absurdo foi observado no resultado do último vestibular da UFRN (2011), no qual cerca de 60 alunos com AI foram aprovados para o curso de Medicina que hoje tem 100 vagas. Destes, mais uma vez, a maioria oriundos do IFRN que fizeram cursinhos em isolados da cidade com bolsa, obviamente! Para se ter uma idéia do que o AI significou nesse vestibular, o argumento mínimo para aprovação em Medicina no vestibular 2011 foi de 692,52 e o máximo 762,45 (diferença de 69,93). O argumento mínimo da primeira fase foi de 634,56. Se esse aluno mantivesse na segunda fase o mesmo argumento, com uma ajuda de 10% seu argumento subiria para 698,01. Ou seja, o último colocado seria aprovado!!!
A ex-presidenta da Comperve, que deixou o cargo pra não ter que descascar esse pepino, ainda divulgou que apenas cerca de 20 alunos passaram em Medicina com AI. Uma tremenda INVERDADE!!!
É obvio que isso já se tornou um absurdo. O AI que há alguns anos foi criado como forma de equiparar os alunos de rede pública e privada no processo seletivo para a UFRN, deixou mais do que claro que ele está gerando uma disparidade entre os mesmos, gerando benefícos aos alunos contemplados, que jamais podem ser conseguidos pelos alunos que não recebem o mesmo presentinho! Se for pra continuar dessa forma, é melhor que sejam logo criadas as cotas e as vagas sejam logos separadas. Assim, pelo menos, cada aluno saberá a quantas vagas estará concorrendo e o comércio lastimável de contemplados pelo AI acabará, ou pelo menos, não causará mais tanta revolta!!!